Filósofos e cientistas políticos captaram a existência do fenômeno da pós-verdade, que em suma expressa a reflexão de que no mundo de hoje, as pessoas constroem a própria realidade, entrando em contato apenas o que querem ver, ouvir e interagindo dentro de uma bolha de informações, menosprezando a verdade em si e se atendo mais às próprias crenças e emoções.
Parece evidente que na pós-verdade, vivemos o auge do apreço pela mentira e olhamos lá longe, fora do radar, as histórias que ninguém quer ouvir e quase ninguém quer contar, as verdadeiras histórias por trás dos roteiros palatáveis que nos habituamos a ouvir hoje em dia.
Vamos aos exemplos mais recorrentes.
O homem? É sempre mau. A mulher, sempre boa e sempre apanhou muito na história, mesmo que ela não prove o contrário, mesmo que o homem prove o contrário, é mais fácil acreditar no bicho-papão do que mexer nos escombros da miséria humana: muitas mulheres mentem e fazem falsas denúncias para se vingar, para ficar com os filhos, com o dinheiro, com tudo.
Os poderes são sempre esmagadores: o juiz sempre é contra a lei e corrupto, o promotor é vendido, a sentença não acolheu as provas. O sistema todo é falho pontualmente, contra pessoas selecionadas. Mas ninguém parou para pensar que o juiz não escreveu nada daquilo, que não foi ele que inventou, que as provas estão no processo e o Judiciário, por exemplo, é um órgão com muitas camadas de poder, que não seriam todas evidentemente podres apenas para uma pessoa.
As mamães são santas, sempre que perdem a guarda dos filhos, são quase canonizadas. Duas, por vezes três instâncias confirmam que a guarda fica por exemplo com o pai. Mas estão todos enganados, só a mamãe está certa. Essa mamãe às vezes arranca dentes dos filhos com bofetões, mas isso o Instagram não mostra. Em inúmeros casos, de forma muito triste e humilhante, as crianças são usadas como moeda de troca pelas próprias mães.
A liberdade de expressão é um manto que a tudo cobre. Xingar e ofender é tudo livre, desde que você esteja de acordo. Se o ofensor é processado, é censura. Como se a democracia fosse a valoração do caos.
A internet é um catalisador desse panelão, possibilitando a adesão fácil e feliz a qualquer história em que o internauta queira embarcar. Parece sempre menos sofrido não precisar pensar muito e deixar que sua mente flua no que já chega bem mastigado e opinado para você.
Oponha-se duramente! Não terceirize sua opinião, jamais. Em qualquer fato que pareça muito estranho, anormal, surreal, aguce seu sentido de interpretação e não engrosse o coro dos que só dizem amém. Fique atento, porque essas histórias muito prontas, todas encadeadas na mesma narrativa, fedem de longe ao golpe que querem te aplicar.
Pense antes de colar na opinião de todos: a sociedade mais saudável que te espera no futuro, agradece.